Corpo invisível
Carlos
Tavares
Eram perdas antecipadas
que fio a fio desfilavam à sua frente
com as cãs de aço enroscando-se
na escova inútil,
pensava Carlos diante do espelho
Poro a poro aos poucos fechando-se
a vida se esvaía no sono ingênuo do tempo
na carícia leve e branca
da juventude ultrajada
Célula a célula, maduras pétalas
feneciam
imperceptivelmente
como corolas invisíveis que o estio resseca
após a primavera
impiedosamente
Era assim que Carlos assistia o avanço
inexorável das idades na superfície vesga
do espelho no pulsar distante das estrelas
que grudam na escuridão do mundo
pupilas de antigo brilho sem cristais
feita de lágrimas o jorro final
a refulgir no espelho inócuo
o vigor que se precipita no abismo
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