
ANJO DE VIDRO
Maria das Graças Targino
ANJO DE VIDRO está em cartaz nos cines brasileiros. Mais uma produção holywoodiana, trazendo no elenco Susan Sarandon e Robin Willians . Mais um filme comercial lançado na época do Natal sobre o Natal. Leve. Livre. Solto. Um belo filme para sonhar, cantar e decantar a graça de viver. Rose, editora literária, dedica-se a cuidar da mãe, vítima do mal de Alzheimer, esquecendo-se de sustentar os seus sonhos. Nina, jovem de futuro promissor, vive uma relação corroída pelo ciúme paranóico de Mike. Jules, em sua solidão enlouquecedora, quebra a própria mão para reviver seu único Natal de felicidade, num hospital, aos 14 anos.
Mais do que as histórias distintas e distantes desses personagens centrais, que se cruzam e entrecruzam numa noite de Natal, em busca do verdadeiro sentido do milagre natalino, algo me encanta nesse filme do diretor Chazz Palminteri. Uma pergunta que traz Rose de volta à vida. Algo mais ou menos assim: “o que você gostaria de alcançar?” Pergunta simples, simplória e trivial. Mas, por favor, tentem e vivenciem o quão difícil é encontrar resposta convincente. Queremos tanto da vida, que não conseguimos priorizar. Queremos tão pouco, que nos envergonhamos de dizê-lo. Quando não fugimos em soluções fugazes, como a de Rose, a quem basta sobreviver àquela noite de Natal, respondemos sempre – felicidade, paz, amor e saúde. Mas como conseguir felicidade? E paz? O amor que temos nos basta? Quais os preceitos de uma boa saúde? Perdemo-nos, então, nos nossos anseios e aspirações. Até por que, como enunciar o que mais desejamos sem incorporar, em meio aos nossos desejos mais ardentes, família e amigos? Não fazê-lo é “politicamente incorreto” É a autodenúncia do egoísmo e egocentrismo presente no ser humano. Ficamos, então, a buscar uma solução que abrigue nossos sonhos e os de todos aqueles que nos cercam! E nos perdemos nos caminhos e descaminhos dos desejos formais, sociais e “corretos” .
Eu, sem pudor e sem vergonha, confesso, sem constrangimento, de coração aberto e desarmado. Saúde é vital. Felicidade, idem. Porém, por mais que me digam o contrário, acredito que felicidade e paz são amantes inseparáveis ou irmãos siameses do amor. O amor que vai além do amor ao outro, no sentido mais generoso de bem ao próximo, em sentido amplo e irrestrito. Não falo do amor profundo a Deus (qualquer que seja a sua concepção). Não falo de sentimento de afeto ditado por laços de família. Não falo da dedicação e carinho aos amigos. Falo, sim, do sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser, que engloba numa só esfera os mais diversos sentimentos: ardência que queima e não sufoca, ternura que dá paz e não sufoca. E mais: afeição, amizade, cumplicidade, carinho, admiração, respeito, apego, prazer, paixão, cuidado (muito cuidado!) zelo (muito zelo!) Enfim, eu falo do meu amor infindo por você!
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